segunda-feira, 2 de maio de 2011

MENINOS (3)


__ Mãe, por que você não pega férias em dezembro, janeiro, fevereiro e julho? Aí eu não ia precisar ficar em Abril.
__ As coisas não funcionam assim, facinho, para quem trabalha.
__ E como é que as coisas funcionam?
__ É assim que funciona: a cada doze meses a gente tem o direito de pegar trinta dias de férias, ou seja, um mês. As minhas férias são em outubro.
__ Então muda para janeiro. Aí você não precisa ficar me visitando em Abril.
__ Também não é assim que funciona. Onde eu trabalho tem um monte de gente. O gerente da agência faz uma escala e a cada mês saem várias pessoas de férias.
__ Escala? Quê qui é escala?
__ É uma lista onde está escrito assim: Magali Arcanjo – Outubro. Então eu só posso sair em outubro.
__ E o gerente pega férias quando?
Magali quis responder bem para o filho. Mas, descuidada e aborrecida pela lembrança do assunto, respondeu como estivesse conversando com alguém mais velho e que já pudesse entender os pequenos problemas do mundo; aqueles pequenos problemas que ficam grandes quando nos importamos demais com eles.
__ O papa, o desembargador e o gerente pegam férias em dezembro, janeiro, fevereiro. Os outros meses são para a ralé: o marceneiro, o mascate e o caixa de banco pegam férias em maio, junho, julho e agosto... só quando venta e faz frio.
__ Tem papa onde você trabalha? O que é um mascate?
Magali sorriu ao perceber seu erro nada infantil, aliás muito comum entre os adultos que esquecem que um dia já foram crianças também.
__ Não, meu amor. O que eu quero dizer é que as pessoas importantes descansam quando querem e os pobres quando podem.
__ Você não é importante? Você é muito importante para mim. Por que você acha que o papa é ruim? O que ele fez para você ficar com raiva dele?
__ O papa não é ruim, mas o gerente é.
__ Você trabalha com pessoas ruins, mãe? Você já me falou várias vezes que você é a gerente aqui de casa. É por isso que na escala aqui de casa eu só pego férias em Abril?
                Magali olhou para sua vassoura na área de serviço e quis chamá-la usando seu sorriso.

ROGÉRIO LOPES

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