sexta-feira, 6 de maio de 2011

Rodeio e homossexualismo


Rodeio e homossexualismo: se me perguntarem digo que sou contra aquele e antipatizo com este. Mas só se me perguntarem. Tolero bem a existência destas duas expressões – a cultural e a sexual, ao ponto de buscar algo que as una em mim para que eu possa dar minha opinião. Sei que ninguém pediu, mas ideias ganham vida própria sem que digamos sim ou não.
Lá se vão quase seis anos do lançamento do desafio do cantor sertanejo Zezé di Camargo à roqueira Rita Lee para que esta provasse denúncias de maus tratos a animais durante os muitos rodeios realizados Brasil afora. Houve, por aquela época também a composição, em parceria com o emepebista Chico César (hoje ocupando o cargo de secretário estadual de cultura da Paraíba), da canção ODEIO RODEIO, que viria enfurecer a ala pop de intérpretes de música caipira (gênero dominante em eventos ‘cauntre’)
Polêmica velha dirão, e que se consumiu no deslinde do mau enfrentamento de ideias preconceituosas (Rita/Chico) versus defesa baseada em números (não levaram em conta o sofrimento dos animais) tais como a quantidade de empregos que os rodeios geram, retorno financeiro para as cidades que sediam grandes eventos, e que tais (sertanejos).
Acompanhei a pantomima saboreando um bom contrafilé assado e dando razão à vegetariana Rita, mas sem dizer a ninguém minha opinião. Dizia apenas de si para si que o desnecessário e o ocre do rodeio poderiam ser testados com os peões sendo montados pelos bois e cavalos. Opinar contra isto ou aquilo, só se encostassem um punhal de prata em um dos meus olhos e dissessem: - Opine! Diga! E eu diria que sou contra rodeio, que vejo naquilo apenas crueldade e sadismo, nada mais. Mas não deixaria meu filé!
Quem chegou até aqui deve estar se perguntando onde entra o homossexualismo nesta parada. Afinal eventos de montaria, em terras tupinambás e dehors, não tem perfil gay. Pelo contrário, há sim algo de homofóbico, certa exaltação à testosterona testosteruda.
O fato é que este que vos escreve é homem comum como outro qualquer, e por ser comum tem hábitos considerados normais, anseios e ambições rastaqüeras, desejos inimputáveis e sonhos tão recorrentes quanto ordinários. Ou seja, uma estrela no céu, uma gramínea no descampado, um automóvel em um congestionamento. Apenas mais um. Mais um entre tantos que tem a mesma fantasia sexual de transar com duas ou mais mulheres.
No concerto desta transa ficaria acertado que as duas se beijariam e muito. E se usariam mutuamente, buscando nelas o prazer que há em mim. Voyeurisme como prato preliminar na ceia de corpos temperados pelo desejo.
Aqui cabe a questão: aqueles não seriam beijos gays? Mas é claro que sim. O nojo que sinto ao ver dois homens se beijando não destrói a essência do que sinto ao querer ver duas mulheres se amando. Porém, não há nada de irresistível nisso. Tanto é que não realizei tal fantasia (juvenil?) e há muito nem pensava em querer/tentar realizá-la.
Assim sendo posso afirmar que, no mesmo instante que a homossexualidade causa repulsa e estranheza, me atrai, me completa e me comove. Me atrai porque me faz observá-la (mesmo que longe); me completa posto que o homossexualismo feminino poderia fazer parte de uma aventura minha e me comove pois sei que, para o indivíduo homossexual do sexo masculino não é nada bom ler que aquilo que lhe causa prazer, noutro provoca profundo, danoso e irreversível asco.
Todavia, não sou do tipo que faz comícios. Confio acreditando que as pessoas são livres para sentirem o justo, o grande e pequeno daquilo que realmente sentem, pública ou sofregamente se estiverem escondidas no armário de suas dúvidas. Só não encostem um punhal colorido em um dos meus olhos, dizendo: - Opine! Diga! Direi que sou contra o direito de machos se beijando em praça pública, mas teso de alegria ao pensar em duas fêmeas completando meu prazer.
Creio piamente que ideais não devam ser impostos. Então, que peões e gays guardem seus punhais e deixem as pessoas refletirem a cerca de questões postas, nunca na ordenança falsa de formadores de opiniões charlatãs, que visam esconder a verdade e destroem o direito de um prazer existir naturalmente. Não acho possível que um boi pule daquele jeito só por que tem um peão em seu dorso, nem acho justo que uma parada gay seja realizada com dinheiro público (no único evento do interior paulista foi utilizado este expediente). Se me perguntarem, digo que sou contra.

ROGÉRIO LOPES

ODEIO RODEIO (CHICO CÉSAR)

Odeio rodeio
E sinto um certo nojo
Quando um sertanejo
Começa a tocar
Eu sei que é preconceito
Mas ninguém é perfeito
Me deixem desabafar (bis).

A calça apertada
A loura suada
Aquele poeirão
A dupla cantando
E um louco gritando
‘Segura, peão’.


Me tira a calma
Me fere a alma
Me corta o coração
Se é luxo ou lixo
Quem sabe é o bicho
Que sofre o esporão

É bom pro mercado
De disco e de gado
Laranja e trator
Mas quem corta a grama
Não pega na grana
Não vê nem a cor

Respeito Barretos,
Franca, Rio Preto
E todo interior
Mas não sou texano
A ninguém engano
Não me engane, amor


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