terça-feira, 15 de novembro de 2011

A lógica eufemística dos cachorros


É só no português brasileiro que a palavra cachorro é um sinônimo perfeito de cão. Vindo provavelmente do latim catulus (filhote de cão), com o acréscimo da terminação basca orro, cachorro existe em nossa língua desde o século 14 e conserva em Portugal – como em espanhol – o significado primário herdado do termo romano. Como catulus, pode abarcar ainda animais de algumas outras espécies, como lobo, leão e urso, mas apenas quando eles são de “tenra idade”, como diz o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa.

O fato de, no Brasil, termos dado à palavra a acepção principal de indivíduo adulto da espécie canina parece ter obedecido a razões de religiosidade ou superstição. Cachorro teria se imposto como uma espécie de desvio eufemístico de cão, um dos nomes populares do diabo.

A palavra tem outras acepções em português, todas figuradas. A de “indivíduo de classe inferior, escravo” desapareceu junto com a escravidão e não deixou saudade, mas permanece viva a de “pessoa vil, mau-caráter”. Recentemente, a cultura funk carioca inventou um sentido novo para “cachorra”.

É curioso observar que a disposição de atribuir à palavra novos significados – quase sempre pejorativos – é uma marca do português, e em especial do português brasileiro. Não se vê sinal dela no dicionário da Real Academia Española.

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