sábado, 15 de outubro de 2011

JOTA GHETTO - um rapper são-carlense

MC, beatmaker e produtor cultural na área do Hip-Hop  desde 1995 na cidade de São Carlos-SP, JULIO CEZAR LOPES DE SOUZA, também conhecido como JOTA GHETTO, ex-integrante da banda de rap ZERO 16, banda que fez expressivas apresentações no Festival Hutuz (Rio de Janeiro), Festival Contato Multimidia (São Carlos-SP) entre outros, e MC do grupo CafofoRec, lança agora, um material paralelo à atividade musical em grupo, o EP DINAMIKROPHONIA, de maneira independente pelo selo KOROPRETOBEATZ. Gravado, mixado e masterizado por Lincoln no estúdio Correra Beats. O EP conta com participações de Peqnoh
(Pegada de Gigante, Piracicaba-SP), MC Bitrinho (Cafofo Rec/Afrika Kidz Crew, São Paulo-SP), Vullgo $au (Cafofo Rec, São Paulo-SP), Lincoln (Sub-Loco Coletividade, São Carlos-SP) e Pump Killa (São Paulo-SP).
Sentindo a necessidade da circulação de sua música, a limitação de poder produzir um formato físico com pouco capital e a possibilidade de autonomia para tal, JOTA GHETTO decide por fabricar o EP cópia por cópia, a exemplo de Flow MC & Jay-P e Emicida, e vende as cópias a R$3,00.
Nós também batemos um papo com o JOTA GHETTO, fizemos umas perguntas a ele e você pode conhecer mais o seu trabalho logo aí embaixo, sobre como ele começou no rap, como vê a cena, o que podemos esperar desse ep, enfim continue lendo e escute os sons!
Bokão podepa.com - Então mano, quem é o JOTA GHETTO? Fale um pouco sobre você...
JOTA GHETTO - O JOTA GHETTO é um cara simples, gosta das coisas boas da vida. Filho de Ogum, encantado por rimas e por música. Um cara que quando pequeno disse à mãe que queria fazer o que Roberto Carlos fazia. Cantar. Um cara que quando assistiu, aos 5 anos,  Beat Street e ouviu Holiday Rap e viu seu irmão tentando moonwalk, nunca mais conseguiu acordar ou dormir  sem pensar em Hip-Hop e conduziu toda sua vida pelo ponto de vista do Hip-Hop, aprendeu coisas boas e ruins com ele.
Bokão podepa.com - Como o rap entrou na tua vida e quando foi que você pensou: “eu tenho que fazer isso também”?
JOTA GHETTO - Rap... foi o seguinte, quando eu tinha 5 de idade, começava pipocar em todas as rádios do Brasil uma ou outra música gringa com uns versos de rap americano. Eu e meu primo fizemos, então, o Rap da Formiga. A história foi assim, a gente caçava grilo no quintal e tinha uns formigueiros. As formigas, de vez em quando, seguravam os grilos, aí a gente fez o refrão, coisa de criança: “Formiga, formiga, formiga é minha amiga”. 1987. Já fazia sem pensar que queria fazer; criança é livre, né?
Bokão podepa.com - E esse EP? Sabemos das participações, mas o que terá nele, qual a mensagem que você procura passar? Tem uma data de lançamento já? Quantas faixas terá?
JOTA GHETTO - O EP tem 12 faixas, idealizadas em 2009, gravadas entre 2010 e 2011. A ideia nele é a mais diversa possível. Quis fazer um rap o menos contraditório e hipócrita possível, como eu falo na introdução do mesmo. Ali tem muita ideia direta de quebrada pra quebrada. Pra quem tem aquela visão de preconceito contra outros movimentos, digo que o rap perdeu com isso. Um tempo atrás, o cara que cantava rap não conversava com o vizinho que fazia pagode, e o cara que fazia pagode gostava do rap dele. Já vi isso e a situação me inspirou a fazer um rap que falasse mais pra quebrada colaborar e contar com ela mesma. Como eu ouvia e ouço Sampa Crew, tem bastante letra romântica também, sim. Letras que falam sobre o reconhecimento que o rap merece enquanto música e que uma boa parcela de rappers precisa acordar porque, se eu me lembro bem, o Rap nos anos 1980/1990 era dançante e tinha mensagem de progresso. Perdemos mercado cantando com raiva e base lenta e sem apontar solução na ideia rimada, muitas vezes. Aí, minha ideia nesse Ep, é essa. E tem muita letra que fala pra molecada usar camisinha. A molecada tá transando a milhão mesmo; pode transar, mas cuidado pra não colocar gente no mundo sem ter estrutura pra tal, liga?
Tem bastante vocal de ragga, que é o primo mais velho do rap, e eu gosto bastante.
Bokão podepa.com - Influências musicais, quais são as suas, dentro e fora do rap?
JOTA GHETTO - Dentro do rap eu posso citar Fat Boys na gringa, depois Whodinni, KRS One; no Brasil, sem dúvida, Racionais. Tive sorte de conhecer algumas coisas antes da maioria, meu parceiro de grupo Sauenga Santiago é filho do Willian Santiago da Zimbabwe, selo histórico no Brasil, então a gente tinha uma certa facilidade em acessar e adquirir sons. Outros estilos? Posso citar o samba, com certeza, como eu sou percussionista, gosto bastante do baque virado do maracatu, tambor de crioula, Côco, batuque de umbigada e por aí vai. Sempre gostei de Funk Carioca, não gosto quando ele se desvirtua, mas acho a batida 'da hora'; gosto de rock 60's, Jimmi Hendrix, The Doors, Credence Clearwatter Revival, JetroTull, Uriah Heep. Funk 70's é de lei (nem precisava citar, eu acho), e os house/dance da década de 1990: Ace of Base, Ice MC, Snap. Música de FM, que tocava nos anos 1980 também: Guilherme Arantes, Emílio Santiago, Blitz, RPM. Tudo aquilo que fazia sucesso acabou virando influência indireta pra o que eu faço hoje em dia.
Bokão podepa.com - O que te motiva a escrever? De onde vem suas letras?
JOTA GHETTO - De tudo, simplesmente de tudo. Mulher, bebida, problema, alegria, riso, choro, meus sobrinhos, sobre o próprio rap, religião, fé, falta de fé... Sobre tudo.

Bokão podepa.com - E sobre o rap, como tu vê a cena aqui no Brasil? Falta algo pro crescimento ou estamos no caminho certo?
JOTA GHETTO - Eu tava prestando atenção na cena e acho legal, só acho uma pena essa história de Cabal X Emicida e letra 'tirando' e resposta. O rap Nacional briga muito com ele mesmo. Eu acho válida a caminhada dos dois, mas acho uma pena desperdiçar rima pra 'tirar' o cara que faz a mesma coisa que você, saca? Mesmo que seja de maneira indireta ou explícita. Falei disso com um parceiro meu: “Porra, se eu pudesse colocar os dois frente a frente...”Por que é o seguinte, eles são formadores de opinião, arrebanham pessoas, tá ligado? O público de um acaba não indo no show do outro. Isso gera uma divisão, cria uma brecha em que um outro tipo de som se insere (no mercado) e o rap acaba perdendo. Acho que o rap tem que ir pra televisão mesmo, tem que ir pra rádio, se marcar. Tem que pagar jabá sim, já que funciona desse jeito e não é todo mundo que tem internet em casa pra escutar a música que quer, na hora que quer. O Revelação paga jabá e é samba bom. É prejuízo pros caras? É nada, é investimento. A Negra Li pagar jabá é investimento. Isso volta para o artista na hora do show. Eu posso falar que o rap precisa entender como se comercializar, pra deixar de ser um sobrevivente na música brasileira e ser um vencedor de verdade, ser um pólo de emprego. O gueto precisa investir nos seus, assim como um tiozinho fica com o cinto apertado dois, três anos quando inaugura uma merceariazinha na quebrada. Tudo é sacrifício, e o rap precisa saber como encarar esse sacrifício na forma de investimento.
Bokão podepa.com - Tu já se apresento em festivais como Hutuz e o Contato Multimídia como foi isso? Acrescentou algo prá você? O quê?
Jota à frente do Zero 16 no Hutuz 2008
JOTA GHETTO - Muita coisa veio de positivo, com certeza. Todo o aparato técnico, tanto do Festival Hutuz como do Festival Contato, eram de extrema qualidade. Observando mais atentamente, você vê todo o esquema de acesso, entrada, segurança, para que tudo corra bem. No caso do Hutuz, em 2008,  a gente se sentiu muito mais feliz, afinal ele foi idealizado por quem faz rap e eu me sinto muito feliz em ter participado e devolvido o respeito por quem me respeitou naquele evento. No Festival Contato, também, mas não era um evento específico de rap, mas tem o mesmo respeito que o músico de qualquer estilo merece para poder realizar uma apresentação digna.

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